A Cegueira Humana
−
Escolha uma.
−
Essa.
−
Certo. – ela desvira a carta e eu fico olhando para ela, Marcos que está ao meu
lado faz cara de impaciente – Hum!!! Como havia pensado...
−
O quê? O que você está vendo ai?
−
O seu grande amor já chegou querida. Apenas você não olha para ele com os olhos
certos.
−
Quê? A senhora acha que se eu conhecesse esse homem eu não saberia?
−
Tudo depende do olhar que lançamos ao alvo.
−
Mas, ele me ama? Qual são as características dele?
−
Sim ele a ama, ele é alto, cabelos escuros e tem os olhos da cor do céu mais
lindos que eu já vi.
− Por Deus Marcos! É o James! – pulo de alegria
nos braços do meu melhor amigo, ele sorri, me retribui o abraço e fala:
−
Melissa, não seja precipitada, não tens certeza.
Olhei
para ele com ar de reprovação, mas voltei minha atenção para a velha cigana e
perguntei?
−
Sei que te pedir o nome seria um tanto demais, mas algumas letras, pode ser?
−
Oh querida! Isso é um tanto difícil, mas posso tentar. Vamos ver... – a mulher
fez uma cara de dor e com os olhos fechados começou a falar as letras - S, A, M,
bom só consegui ver essas.
Marcos
olhava para ela com ar de perplexidade. Eu ri silenciosamente, porque sabia que
ele não acreditava nisso. Ao contrário ele me deu um trabalhão para me
acompanhar até aqui.
−
Bom senhora, essas letras já são o bastante e confirmam as minhas suspeitas.
Levantei-me
da mesa e ela segurou-me pelo braço e disse:
−
Não deixe o amor verdadeiro sair da sua vida criança e lembre-se, os olhos dele
serão o sinal, quando olhares para imensidão do céu saberá que descobriste tua
alma.
Agradeci
a ela pelas revelações e sai da sala. Marcos estava muito calado, será que ele
ficou chateado com algo?
−
Marcos, o que houve? Por que está tão calado?
−
Nada, apenas não acredito no que ouvi. Por Deus, não me diga que você acreditou
naquilo. E mais, não me fale que vai procurar o James. Ele vai rir de você
quando contar o que aquela mulher falou. E outra, mesmo que ela tenha falado a
verdade... não sei, não confio no James.
−
Deixe de bobagens Marcos, ele é um cara legal. E outra, as características que ela
falou são iguais as dele.
−
Pelo amor de Deus Melissa! Um homem alto, cabelos escuros e olhos azuis,
características muito incomuns não acha?
−
Pare com isso já! Não vou deixar você que
me deixe triste. Sinto muito se você não se encaixa nas características.
Quando
eu falei isso eu vi o rosto de Marcos perder a cor, ele ficou sem ação. Droga!
Eu não queria ter dito isso, mas ele me tirou do sério.
−
Desculpa Marcos! Eu sei que não deveria falar assim contigo, sei que você só
quer o meu bem, mas, você me deixa louca com essa tua forma de falar.
−
Você sabe que eu não quero que te machuques.
−
Eu sei... Me perdoa...
−
Certo, mas vou para casa. – segurei ele pelo braço e falei:
−
Você sabe que jamais irei te deixar. Você é meu melhor amigo.
−
Eu sei. Mas vou lá! – ele beijou minha bochecha e saiu.
Olhei
para me amigo e algo dentro de mim gritou:
−
Marcos! – ele virou – Adoro teus olhos negros!
−
Tá bom, sua doida! – virou e saiu rindo.
***
−Ai
mamãe! Isso aperta. – mamãe virou os olhos e falou:
−
Essa é a intenção meu bem. Mas você está ficando linda nesse vestido.
−
É também acho. – falei fazendo biquinhos e mandando beijinhos para o espelho, mamãe
riu e falou:
−
Nem pareces que é uma mulher feita menina!
−
Ai! Mas estou com medo de morrer sem ar, por Deus! Se eu pudesse eu mesmo
amarraria só para não te dá trabalho.
−
Nunca me dás trabalho. E quem vai te levar? Marcos ou James.
−
Claro que será o James mamãe, ele é o meu namorado.
−
Sei, mas já te falei, gosto mais do Marcos. – com o dedo indicativo levantado
falei:
−
Ai, ai, ai! Já te falei, Marcos é meu amigo e o James bem... ele é o meu
verdadeiro amor. – mamãe com uma cara de descrente falou:
−
Você acredita nisso mesmo, Melissa? Não te acho feliz quando te vejo com ele. E
não acho correto você creditar toda tua felicidade em cartas de tarô.
−
Mamãe não é isso, eu gosto dele. E quanto as nossas diferenças bem isso aos
poucos se ajeita. - Mamãe cerrou os olhos respirou fundo e conhecendo minha mãe
como conheço pensei comigo lá vem bomba.
−
Certo! Mas me responda só uma coisa, se Marcos te dissesse que a ama, você
ainda insistiria nesse namoro?
Fiquei
muda e estática. Eu... e Marcos... juntos... – mamãe riu e falou:
−
Não precisa responder. – virou as costas
e saiu.
Que
droga! Porque ela faz isso comigo? Amo minha mãe, mas nestas horas tenho
vontade de esganá-la, principalmente porque ela sempre tinha o poder de me
fazer sentir insegura quanto a assuntos que “eu tinha certeza”. Fiquei sentada
na beira da cama olhando para o espelho.
Piiiiiiiiiii
piiiiiiiiiiiiii piiiiiiiiiiii piiiiiiiiiii.
Levantei-me
da cama, balancei a cabeça e falei olhando para o espelho:
−
James é o teu amor verdadeiro.
Desci
e fui.
A
pista estava lotada, o som a todo vapor. James me puxou para a pista e
começamos a dançar. Vi Marcos de longe, ele estava dançando com Marina, uma
menina aguaaaaada (mentira ela era
considerada uma das gostosonas da faculdade), ela parecia muito feliz, a forma
que ela se agarrava a ele era... de.pra.va.da. James olhou em direção a onde eu
olhava e falou ao meu ouvido usando um tom que eu não gostei:
−
Parece que Marcos vai se dar bem essa noite!
−
Como assim? – minha voz estava aborrecida eu senti, mas não liguei. Ele rindo
falou:
−
Marina, é muito atenciosa com os pares dela.
−
Não quero saber disso. Pode ser?
James
com um sorriso no rosto falou:
−
Se não fosse ciente que você acredita que sou o teu amor verdadeiro eu juraria
que você esta com ciúmes do Marcos.
−
Deixe de bobagens, só não quero que ele pegue nenhuma doença!
−
Por Deus mulher! Como tu és má, kkkkkkkkk.
Depois
de umas três músicas James tinha começado a beber eu sinceramente não gostava
disso. Mas a minha maior preocupação estava do outro lado da pista.
Marcos
estava com Marina em uma mesa, alguns amigos dela chegaram e ela muito educada
(safada!) cedeu o lugar dela e sentou-se no colo de Marcos. Aquilo me deixou
doente!
James
tomou o microfone do cantor e começou a falar. Jesus ele estava bêbado!
POF! POF!
− Som?
POF! POF!
−
Boa noite galera! Eu queria dizer umas palavras. Hoje eu estou aqui com vocês e
eu estou tão feliz! Shhhh! Shhhh! Prestem atenção! Eu queria dizer a vocês que
minha “namorada” – ele fez gesto de aspas quando falou namorada – acredita que
eu sou o amor da vida dela só porque uma cigana velha falou isso! Kkkkkk. Hilário
isso! E mais, hoje eu vou transar com ela. Éh! Isso mesmo! Eu mereço alguma
recompensa por isso! Kkkk. – olhando para mim ele falou – só quero que saibas
meu amor que hoje eu e você vamos... você sabe... e Marina e Marcos também... –
olhando para Marina ele falou – esse foi o combinado, não é minha gostosa!
Eu
queria morrer, meu Deus! Como ele pode! Sai correndo do salão em direção ao
estacionamento como uma louca. Parei diante de uma árvore, inclinei minha
cabeça com ânsia de vômito.
Uma
mão pousou em meu ombro, girei rapidamente. Se fosse o James eu juro que iria
usar minhas aulas de defesa pessoal, mesmo não sendo atacada. Olhei e vi Marcos
com o rosto aflito. Me joguei contra o seu peito, ele carinhosamente me
abraçou. Em meio a soluços, choro e indignação falei:
−
Como ele pode?
−
Fique calma. acabou, e eu estou aqui.
Neste
instante pensei, “como sempre”. Marcos sempre estava ali por mim. Levantei
minha cabeça e procurei os olhos de Marcos, eram lindos... negros... da cor do
céu... eram negros como a noite sem lua... meu Deus! Era ele... era o Marcos o
homem da minha vida! A letras S, A, M. Também estavam em seu nome! Ele sorriu e
me perguntou:
−
O que foi? Eu sei que meus olhos não são azuis da cor do céu Melissa. Mas também
sei que te amo muito. E se me permitir eu te farei a mulher mais feliz do
mundo.
−
Não Marcos...
−
Oi?
−
Teu nome tem as letras, S, A, M. E teus olhos... eles são da cor do céu... da
noite...
−
Oh! Melissa eu te amo tanto!
−
E eu, te amo demais! Me perdoa por ser tão cega!
CLAP!
CLAP!
O
som de duas palmas chamaram nossa atenção, olhamos em direção ao som e a velha
cigana estava em pé, uma luz começou a subir pelo corpo dela e ela se transformou
em um anjo de luz e falou:
−
Oh! Doce criança, eu te falei, o grande amor de tua vida havia chegado, apenas,
você não olhava para ele com os olhos certos. A cegueira do egoísmo nos olhos
humanos impede que eles enxerguem os presentes que Deus dá. Cuide bem de vossas
almas, porque elas pertencem a Deus assim como o “amor”.
Como
um passe de mágica ela desapareceu.
*******************
FIM *******************
Luciana Costa –
21/11/12.
Nenhum comentário:
Postar um comentário