domingo, 11 de outubro de 2015

A Cegueira Humana - Por Luciana Costa



 

A Cegueira Humana


− Escolha uma.
− Essa.
− Certo. – ela desvira a carta e eu fico olhando para ela, Marcos que está ao meu lado faz cara de impaciente – Hum!!! Como havia pensado...
− O quê? O que você está vendo ai?
− O seu grande amor já chegou querida. Apenas você não olha para ele com os olhos certos.
− Quê? A senhora acha que se eu conhecesse esse homem eu não saberia?
− Tudo depende do olhar que lançamos ao alvo.
− Mas, ele me ama? Qual são as características dele?
− Sim ele a ama, ele é alto, cabelos escuros e tem os olhos da cor do céu mais lindos que eu já vi.
  Por Deus Marcos! É o James! – pulo de alegria nos braços do meu melhor amigo, ele sorri, me retribui o abraço e fala:
− Melissa, não seja precipitada, não tens certeza.
Olhei para ele com ar de reprovação, mas voltei minha atenção para a velha cigana e perguntei?
− Sei que te pedir o nome seria um tanto demais, mas algumas letras, pode ser?
− Oh querida! Isso é um tanto difícil, mas posso tentar. Vamos ver... – a mulher fez uma cara de dor e com os olhos fechados começou a falar as letras  -  S,   A,  M, bom só consegui ver essas.
Marcos olhava para ela com ar de perplexidade. Eu ri silenciosamente, porque sabia que ele não acreditava nisso. Ao contrário ele me deu um trabalhão para me acompanhar até aqui.
− Bom senhora, essas letras já são o bastante e confirmam as minhas suspeitas.
Levantei-me da mesa e ela segurou-me pelo braço e disse:
− Não deixe o amor verdadeiro sair da sua vida criança e lembre-se, os olhos dele serão o sinal, quando olhares para imensidão do céu saberá que descobriste tua alma.
Agradeci a ela pelas revelações e sai da sala. Marcos estava muito calado, será que ele ficou chateado com algo?
− Marcos, o que houve? Por que está tão calado?
− Nada, apenas não acredito no que ouvi. Por Deus, não me diga que você acreditou naquilo. E mais, não me fale que vai procurar o James. Ele vai rir de você quando contar o que aquela mulher falou. E outra, mesmo que ela tenha falado a verdade... não sei, não confio no James.
− Deixe de bobagens Marcos, ele é um cara legal. E outra, as características que ela falou são iguais as dele.
− Pelo amor de Deus Melissa! Um homem alto, cabelos escuros e olhos azuis, características muito incomuns não acha?
− Pare com isso já!  Não vou deixar você que me deixe triste. Sinto muito se você não se encaixa nas características.
Quando eu falei isso eu vi o rosto de Marcos perder a cor, ele ficou sem ação. Droga! Eu não queria ter dito isso, mas ele me tirou do sério.
− Desculpa Marcos! Eu sei que não deveria falar assim contigo, sei que você só quer o meu bem, mas, você me deixa louca com essa tua forma de falar.
− Você sabe que eu não quero que te machuques.
− Eu sei... Me perdoa...
− Certo, mas vou para casa. – segurei ele pelo braço e falei:
− Você sabe que jamais irei te deixar. Você é meu melhor amigo.
− Eu sei. Mas vou lá! – ele beijou minha bochecha e saiu.
Olhei para me amigo e algo dentro de mim gritou:
− Marcos! – ele virou – Adoro teus olhos negros!
− Tá bom, sua doida! – virou e saiu rindo.

***

−Ai mamãe! Isso aperta. – mamãe virou os olhos e falou:
− Essa é a intenção meu bem. Mas você está ficando linda nesse vestido.
− É também acho. – falei fazendo biquinhos e mandando beijinhos para o espelho, mamãe riu e falou:
− Nem pareces que é uma mulher feita menina!
− Ai! Mas estou com medo de morrer sem ar, por Deus! Se eu pudesse eu mesmo amarraria só para não te dá trabalho.
− Nunca me dás trabalho. E quem vai te levar? Marcos ou James.
− Claro que será o James mamãe, ele é o meu namorado.
− Sei, mas já te falei, gosto mais do Marcos. – com o dedo indicativo levantado falei:
− Ai, ai, ai! Já te falei, Marcos é meu amigo e o James bem... ele é o meu verdadeiro amor. – mamãe com uma cara de descrente falou:
− Você acredita nisso mesmo, Melissa? Não te acho feliz quando te vejo com ele. E não acho correto você creditar toda tua felicidade em cartas de tarô.
− Mamãe não é isso, eu gosto dele. E quanto as nossas diferenças bem isso aos poucos se ajeita. - Mamãe cerrou os olhos respirou fundo e conhecendo minha mãe como conheço pensei comigo lá vem bomba.
− Certo! Mas me responda só uma coisa, se Marcos te dissesse que a ama, você ainda insistiria nesse namoro?
Fiquei muda e estática. Eu... e Marcos... juntos... – mamãe riu e falou:
− Não  precisa responder. – virou as costas e saiu.
Que droga! Porque ela faz isso comigo? Amo minha mãe, mas nestas horas tenho vontade de esganá-la, principalmente porque ela sempre tinha o poder de me fazer sentir insegura quanto a assuntos que “eu tinha certeza”. Fiquei sentada na beira da cama olhando para o espelho.
Piiiiiiiiiii piiiiiiiiiiiiii piiiiiiiiiiii piiiiiiiiiii.
Levantei-me da cama, balancei a cabeça e falei olhando para o espelho:
− James é o teu amor verdadeiro.
Desci e fui.
A pista estava lotada, o som a todo vapor. James me puxou para a pista e começamos a dançar. Vi Marcos de longe, ele estava dançando com Marina, uma menina aguaaaaada  (mentira ela era considerada uma das gostosonas da faculdade), ela parecia muito feliz, a forma que ela se agarrava a ele era... de.pra.va.da. James olhou em direção a onde eu olhava e falou ao meu ouvido usando um tom que eu não gostei:
− Parece que Marcos vai se dar bem essa noite!
− Como assim? – minha voz estava aborrecida eu senti, mas não liguei. Ele rindo falou:
− Marina, é muito atenciosa com os pares dela.
− Não quero saber disso. Pode ser?
James com um sorriso no rosto falou:
− Se não fosse ciente que você acredita que sou o teu amor verdadeiro eu juraria que você esta com ciúmes do Marcos.
− Deixe de bobagens, só não quero que ele pegue nenhuma doença!
− Por Deus mulher! Como tu és má, kkkkkkkkk.
Depois de umas três músicas James tinha começado a beber eu sinceramente não gostava disso. Mas a minha maior preocupação estava do outro lado da pista.
Marcos estava com Marina em uma mesa, alguns amigos dela chegaram e ela muito educada (safada!) cedeu o lugar dela e sentou-se no colo de Marcos. Aquilo me deixou doente!
James tomou o microfone do cantor e começou a falar. Jesus ele estava bêbado!
POF! POF!
− Som?
POF! POF!
− Boa noite galera! Eu queria dizer umas palavras. Hoje eu estou aqui com vocês e eu estou tão feliz! Shhhh! Shhhh! Prestem atenção! Eu queria dizer a vocês que minha “namorada” – ele fez gesto de aspas quando falou namorada – acredita que eu sou o amor da vida dela só porque uma cigana velha falou isso! Kkkkkk. Hilário isso! E mais, hoje eu vou transar com ela. Éh! Isso mesmo! Eu mereço alguma recompensa por isso! Kkkk. – olhando para mim ele falou – só quero que saibas meu amor que hoje eu e você vamos... você sabe... e Marina e Marcos também... – olhando para Marina ele falou – esse foi o combinado, não é minha gostosa!
Eu queria morrer, meu Deus! Como ele pode! Sai correndo do salão em direção ao estacionamento como uma louca. Parei diante de uma árvore, inclinei minha cabeça com ânsia de vômito.
Uma mão pousou em meu ombro, girei rapidamente. Se fosse o James eu juro que iria usar minhas aulas de defesa pessoal, mesmo não sendo atacada. Olhei e vi Marcos com o rosto aflito. Me joguei contra o seu peito, ele carinhosamente me abraçou. Em meio a soluços, choro e indignação falei:
− Como ele pode?
− Fique calma. acabou, e eu estou aqui.
Neste instante pensei, “como sempre”. Marcos sempre estava ali por mim. Levantei minha cabeça e procurei os olhos de Marcos, eram lindos... negros... da cor do céu... eram negros como a noite sem lua... meu Deus! Era ele... era o Marcos o homem da minha vida! A letras S, A, M. Também estavam em seu nome! Ele sorriu e me perguntou:
− O que foi? Eu sei que meus olhos não são azuis da cor do céu Melissa. Mas também sei que te amo muito. E se me permitir eu te farei a mulher mais feliz do mundo.
− Não Marcos...
− Oi?
− Teu nome tem as letras, S, A, M. E teus olhos... eles são da cor do céu... da noite...
− Oh! Melissa eu te amo tanto!
− E eu, te amo demais! Me perdoa por ser tão cega!
CLAP! CLAP!
O som de duas palmas chamaram nossa atenção, olhamos em direção ao som e a velha cigana estava em pé, uma luz começou a subir pelo corpo dela e ela se transformou em um anjo de luz e falou:
− Oh! Doce criança, eu te falei, o grande amor de tua vida havia chegado, apenas, você não olhava para ele com os olhos certos. A cegueira do egoísmo nos olhos humanos impede que eles enxerguem os presentes que Deus dá. Cuide bem de vossas almas, porque elas pertencem a Deus assim como o “amor”.
Como um passe de mágica ela desapareceu.




                  ******************* FIM *******************


Luciana Costa – 21/11/12.

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