Figuras de
palavra:
As figuras de palavra consistem no emprego de
um termo com sentido diferente daquele convencionalmente empregado, a fim de se
conseguir um efeito mais expressivo na comunicação.
São figuras de palavras:
Comparação:
Ocorre comparação quando se estabelece
aproximação entre dois elementos que se identificam, ligados por conectivos
comparativos explícitos - feito, assim como, tal, como, tal qual, tal como,
qual, que nem - e alguns verbos - parecer, assemelhar-se e outros.
Exemplos: "Amou
daquela vez como se fosse máquina. / Beijou sua mulher como se fosse
lógico." (Chico Buarque);
"As solteironas, os longos vestidos negros fechados no pescoço,
negros xales nos ombros, pareciam aves noturnas paradas..." (Jorge Amado).
Metáfora:
Ocorre metáfora quando um termo substitui
outro através de uma relação de semelhança resultante da subjetividade de quem
a cria. A metáfora também pode ser entendida como uma comparação abreviada, em
que o conectivo não está expresso, mas subentendido.
Exemplo: "Supondo
o espírito humano uma vasta concha, o meu fim, Sr. Soares, é ver se posso
extrair pérolas, que é a razão." (Machado de Assis).
Metonímia:
Ocorre metonímia quando há substituição de uma
palavra por outra, havendo entre ambas algum grau de semelhança, relação,
proximidade de sentido ou implicação mútua. Tal substituição fundamenta-se numa
relação objetiva, real, realizando-se de inúmeros modos:
- o continente pelo conteúdo e vice-versa: Antes de sair, tomamos um cálice (o conteúdo
de um cálice) de licor.
- a causa pelo efeito e vice-versa: "E assim o operário ia / Com suor e com
cimento (com trabalho) / Erguendo uma casa aqui / Adiante um apartamento."
(Vinicius de Moraes).
- o lugar de origem ou de produção pelo
produto: Comprei uma garrafa do legítimo
porto (o vinho da cidade do Porto).
- o autor pela obra: Ela parecia ler Jorge Amado (a obra de Jorge Amado).
- o abstrato pelo concreto e vice-versa: Não devemos contar com o seu coração
(sentimento, sensibilidade).
- o símbolo pela coisa simbolizada: A coroa (o poder) foi disputada pelos
revolucionários.
- a matéria pelo produto e vice-versa: Lento, o bronze (o sino) soa.
- o inventor pelo invento: Edson (a energia elétrica) ilumina o mundo.
- a coisa pelo lugar: Vou à Prefeitura (ao edifício da Prefeitura).
- o instrumento pela pessoa que o utiliza: Ele é um bom garfo (guloso, glutão).
Sinédoque:
Ocorre sinédoque quando há substituição de um
termo por outro, havendo ampliação ou redução do sentido usual da palavra numa
relação quantitativa. Encontramos sinédoque nos seguintes casos:
- o todo pela parte e vice-versa: "A cidade inteira (o povo) viu
assombrada, de queixo caído, o pistoleiro sumir de ladrão, fugindo nos cascos
(parte das patas) de seu cavalo." (J. Cândido de Carvalho)
- o singular pelo plural e vice-versa: O paulista (todos os paulistas) é tímido; o
carioca (todos os cariocas), atrevido.
- o indivíduo pela espécie (nome próprio pelo
nome comum): Para os artistas ele foi um
mecenas (protetor).
Catacrese:
A catacrese é um tipo de especial de metáfora,
"é uma espécie de metáfora desgastada, em que já não se sente nenhum
vestígio de inovação, de criação individual e pitoresca. É a metáfora tornada
hábito linguístico, já fora do âmbito estilístico." (Othon M. Garcia).
São exemplos de catacrese: folhas de livro / pele de tomate / dente de alho / montar em burro /
céu da boca / cabeça de prego / mão de direção / ventre da terra / asa da
xícara / sacar dinheiro no banco.
Sinestesia:
A sinestesia consiste na fusão de sensações
diferentes numa mesma expressão. Essas sensações podem ser físicas (gustação,
audição, visão, olfato e tato) ou psicológicas (subjetivas).
Exemplo:
"A minha primeira recordação é um muro velho, no quintal de uma casa
indefinível. Tinha várias feridas no reboco e veludo de musgo. Milagrosa aquela
mancha verde [sensação visual] e úmida, macia [sensações táteis], quase
irreal." (Augusto Meyer)
Antonomásia:
Ocorre antonomásia quando designamos uma
pessoa por uma qualidade, característica ou fato que a distingue.
Na linguagem coloquial, antonomásia é o mesmo
que apelido, alcunha ou cognome, cuja origem é um aposto (descritivo,
especificativo etc.) do nome próprio.
Exemplos: E
ao rabi simples (Cristo), que a igualdade prega, / Rasga e enlameia a túnica
inconsútil; (Raimundo Correia). / Pelé (= Edson Arantes do Nascimento) / O
Cisne de Mântua (= Virgílio) / O poeta dos escravos (= Castro Alves) / O Dante
Negro (= Cruz e Souza) / O Corso (= Napoleão).
Alegoria:
A alegoria é uma acumulação de metáforas
referindo-se ao mesmo objeto; é uma figura poética que consiste em expressar
uma situação global por meio de outra que a evoque e intensifique o seu
significado. Na alegoria, todas as palavras estão transladadas para um plano
que não lhes é comum e oferecem dois sentidos completos e perfeitos - um
referencial e outro metafórico.
Exemplo: "A
vida é uma ópera, é uma grande ópera. O tenor e o barítono lutam pelo soprano,
em presença do baixo e dos comprimários, quando não são o soprano e o contralto
que lutam pelo tenor, em presença do mesmo baixo e dos mesmos comprimários. Há
coros numerosos, muitos bailados, e a orquestra é excelente..."
(Machado de Assis).
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